O mistério do marketing das lajotas quebradas
Foto Mika Lins |
Certo dia, um dos empregados de uma das cerâmicas e que estava terminando sua casa não tinha dinheiro para comprar o cimento para cimentar todo o seu terreno e lembrou do refugo da fábrica, caminhões e caminhões por dia que levavam esse refugo para ser enterrado num terreno abandonado perto da fábrica. O empregado pediu que ele pudesse recolher parte do refugo e usar na pavimentação do terreno de sua nova casa. Claro que a cerâmica topou na hora e ainda deu o transporte de graça pois com o uso do refugo deixava de gastar dinheiro com a disposição.
Agora a história começa a mudar por uma coisa linda que se chama arte. A maior parte do refugo recebida pelo empregado era de cacos cerâmicos vermelhos mas havia cacos amarelos e pretos também. O operário ao assentar os cacos cerâmicos fez inserir aqui e ali cacos pretos e amarelos quebrando a monotonia do vermelho contínuo. É, a entrada da casa do simples operário ficou bonitinha e gerou comentários dos vizinhos também trabalhadores da fábrica. Ai o assunto pegou fogo e todos começaram a pedir caquinhos o que a cerâmica adorou pois parte, pequena é verdade, do seu refugo começou a ter uso e sua disposição ser menos onerosa.
Mas o belo é contagiante e a solução começou a virar moda em geral e até jornais noticiavam a nova mania paulistana. A classe média adotou a solução do caquinho cerâmico vermelho com inclusões pretas e amarelas. Como a procura começou a crescer a diretoria comercial de uma das cerâmicas descobriu ali uma fonte de renda e passou a vender, a preços módicos é claro pois refugo é refugo, os cacos cerâmicos. O preço do metro quadrado do caquinho cerâmico era da ordem de 30% do caco integro (caco de boa família).
Até aqui esta historieta é racional e lógica pois refugo é refugo e material principal é material principal. Mas não contaram isso para os paulistanos e a onda do caquinho cerâmico cresceu e cresceu e cresceu e , acreditem quem quiser, começou a faltar caquinho cerâmico que começou a ser tão valioso como a peça integra e impoluta. Ah o mercado com suas leis ilógicas mas implacáveis.
Aconteceu o inacreditável. Na falta de caco as peças inteiras começaram a ser quebradas pela própria cerâmica. E é claro que os caquinhos subiram de preço ou seja o metro quadrado do refugo era mais caro que o metro quadrado da peça inteira… A desculpa para o irracional (!) era o custo industrial da operação de quebra, embora ninguém tenha descontado desse custo a perda industrial que gerara o problema ou melhor que gerara a febre do caquinho cerâmico.
De um produto economicamente negativo passou a um produto sem valor comercial a um produto com algum valor comercial até ao refugo valer mais que o produto original de boa família…
A história termina nos anos sessenta com o surgimento dos prédios em condomínio e a classe média que usava esse caquinho foi para esses prédios e a classe mais simples ou passou a ter lotes menores (4 x15m) ou foram morar em favelas.
São histórias da vida que precisam ser contadas para no mínimo se dizer:
— A arte cria o belo, e o marketing tenta explicar o mistério da peça quebrada valer mais que a peça inteira…
Adorei saber disso! Thank you ao criativo que tomou a atitude, ao sensível que viu arte nisso e ao espertinho que não podia perder dinheiro!Eu ainda acho lindo esse piso…fico meio triste com desvalorização e nossa cultura que acha que tem que destruir o velho pra ter algo novo…Salvem os pisos de cacos e granilites!
Nossa, é o quintal da casa em que fui criada! Adorei a história.
Tenho vontade de saber sobre a história do marmorite, que também era conjugado com caquinhos de mármore. obrigada por desvendarem essa! abraços
Eu conheço uma historia ótima de caquinhos: uma amiga minha que mora em Pinheiros, muitos anos atras decidiu trocar seus caquinhos da área de serviço por aqueles quadrados de cerâmica vermelha bem escuros. No dia da instalação, o pedreiro atrasou a beça, ela desesperada porque tinha um compromisso. Quando ele chegou, ela disse pra ele: "Seu fulano, tenho que sair, o negócio aqui é simples, veja como está feio esse caquinho. É só trocar pela cerâmica que está ali". E foi embora. Quando voltou, o seu fulano tinha quebrado toda a cerâmica nova e "renovado" o piso de caquinhos, com caquinhos novos, claro…
Moro numa casa com a entrada cheia de caquinhos vermelhos, com pretinhos e amarelos salpicados… todo dia olhava pra eles tentava imainar qual seria a hitória desse piso… Obrigada! =)
que legal essa história! eu tenho boas memórias da infância com esse piso de caquinhos vermelhos! por mim tería um quintal assim ainda hoje! adorei saber tudo isso =D
Adorei a história do caquinho, na minha infância, vivia brincando na casa de uns vizinhos que era coberta de caquinhos "lindinhos".Adorei também o que aconteceu com a casa de Janes Rocha, merece destaque!Eliane
Lembro que em casa meu pai comprava sacos de caquinhos na loja!!! Muito legal! Mais trabalhoso e hoje em dia pode ser muito mais artistico!
morei em várias casas com esse piso. só achava ruim pq precisava encerar, e o serviço sobrava pra mim :(vc se lembra que depois apareceu um negócio pavoroso chamado "piso vitrificado" que, evidentemente, acabou virando caquinho também? esse era feio!
Adorei! Aqui em Barbacena – MG tem muita calçada de caquinhos e até fachadas inteiras!
Bauru, começo dos anos 60. Meus pais reformam a casa – e os caquinhos vermelhos aparecem na frente, no corredor ao lado da sala, em praticamente todo o quintal.Eu, nos meus 4, 5 anos de idade, tinha todo o tempo do mundo para acompanhar o pedreiro fazer o serviço.E ele era um artista magistral: no pequeno alicate, quebrava ainda mais os cacos (já quebrados "de fábrica", dentro do saco de pano grosso) e ia eternizando nos cantinhos, aqui e ali, discretamente, uma flor ou outro desenho, em preto e amarelo.
Gostei de sabe desta história pois até mesmo no interior é comum ver cacos de piso nas casas.bjosmaysa
Aki na minha infancia tinha um casa de amigos, qse parentes q tinha esses caquinhos vermelhos.. boa epoca…